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A Globalização – O Monstro papão ou a vítima de um péssimo marketing?

A Globalização é uma realidade incontestável, se olharmos com isenção e racionalidade, desde o início da cultura humana, com os seus pontos negativos e positivos.

Já desde os primórdios, em que o homo sapiens sapiens vivia em comunidades constituídas por pequenas tribos, que existia interação entre tribos, não apenas para a constituição de “casamentos”, de modo a diversificar a riqueza genética das tribos, mas fundamentalmente para a realização da troca de produtos entre si. Se considerarmos que o mundo conhecido por essas tribos era limitado às distâncias percorridas durante as suas migrações, bem como as tribos com as quais interagiam eram limitadas às que conheciam nessas migrações, podemos dizer que as trocas que praticavam entre tribos eram a globalização possível a essas tribos, pois eram trocas realizadas em todo o “mundo” por eles conhecido.

 

Do mesmo modo, com a criação das cidades e, posteriormente, dos estados, esteve sempre muito presente a necessidade e a vontade de fazer trocas comerciais com o restante mundo conhecido, sendo que os enclaves comerciais foram sempre focos de extrema riqueza e poder para as populações e estados onde ficavam esses enclaves. Ainda hoje ainda assim o é. Aliás, o comércio não trazia apenas a disponibilidade de produtos, como também o conhecimento e o debate de novas ideias e informações, fomentando o desenvolvimento das ciências, da cultura e do pensamento.

 

Nós os portugueses somos a prova da força e atração da globalização, uma vez que fomos os grandes promotores da globalização como hoje a conhecemos. Fomos nós que abrimos o mundo ao mundo e criámos as primeiras redes comerciais verdadeiramente globais ao nível do nosso planeta.

Assim sendo, é impossível fugirmos ou recusarmos a globalização e os seus efeitos. Podemos sim e devemos mesmo o fazer, é fazer a globalização pender, em termos de saldo nacional, mais ao nosso favor em lugar de contra nós.

Para isso temos de deixar de recusar a globalização e usar as regras da mesma para promover o nosso crescimento e o desenvolvimento da riqueza da nossa sociedade.

 

Em primeiro lugar, as pessoas têm de deixar de lado o seu egoísmo extremo.

Por exemplo, a população europeia não aceita e consideramos muito bem, abdicar das conquistas sociais que marcam a sociedade e economia dos países EU desde o fim da segunda guerra mundial. No entanto, em lugar de comprarem produtos made in EU, ou até USA, países democráticos e com sistemas sociais diferentes, mas que procuram cuidar das suas populações, compram produtos made in China ou algum outro país onde o custo da mão-de-obra é muito mais baixo, não apenas pelos salários mais baixos mas igualmente por os benefícios sociais que essas populações têm são quase nulos.

Se os cidadãos europeus querem manter os seus direitos conquistados, têm de mostrar às empresas que o seu “voto económico” é consumir o made in que lhes garanta manter o seu sistema social, ou seja, manter produção dentro dos blocos económicos que garantam os seus desejos.

Outra opção, já que muitas vezes é impossível comprar dados produtos sem serem made in China, por exemplo, é comprar made in China mas de marca ocidental, mostrando que não se quer comprar marcas que não sejam nossas.

Deste modo promove-se a manutenção das empresas e postos de trabalho dentro dos blocos económicos ocidentais, uma vez que os principais mercados da produção dos países sem sistemas sociais de apoio à sua população, como é o caso da China, o que potencializa o custo de mão-de-obra tão baixo, são a EU e os USA.

 

No entanto, mesmo esta alteração de comportamento não irá impedir a destruição de postos de trabalho em alguns sectores. Isso é impossível, pois haverá sempre sectores onde será impossível manter essas actividades a funcionar de forma competitiva dentro do nosso território. Por esse motivo existirão sempre vozes contra a globalização, como é natural, já que as pessoas que vêm os seus postos de trabalho desaparecerem e sentirem, que devido à globalização, estão a ser jogados num vazio de incertezas, vão sempre sentir que estão a ser sacrificados. Contudo, se os estados olharem para as suas capacidades, geográficas, humanas e de conhecimento e planearem, a longo prazo, uma estratégia de aumentar a sua competitividade em sectores de maior valor acrescentado, o saldo líquido da globalização será sempre positivo e as pessoas que vêm esfumar os seus postos de trabalho, terão a oportunidade de serem requalificados e encontrar um novo posto de trabalho potencialmente mais rentável do que o anterior.

 

A globalização também cria postos de trabalho, não somente os destrói, no entanto é a gestão dos estados que faz a globalização ser boa ou má, não apenas na qualidade dos governantes, mas também na qualidade dos cidadãos e a sua inteligência de com as suas decisões individuais indicarem às empresas a rentabilidade de manterem as suas fábricas e postos de trabalho dentro do território.


Artigo europeu sobre a globalização:https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/economy/20190603STO53520/os-beneficios-da-globalizacao-economica-na-europa